Estamos em Paris desde as primeiras cenas: ora diante do Louvre, ora em pleno Senna, ora frente à clichê Torre Eiffel. Ainda que no começo tenhamos a sensação de vermos um clip turístico, aos poucos esta impressão se desfaz: o diretor busca novos olhares para captar a atmosfera amorosa da capital francesa.
A história-base, inicialmente banal (um casal prestes a se casar e em plena crise da relação) ganha colorido diferente conforme o absurdo penetra deliciosamente no enredo.
O protagonista, um escritor de temas hollywoodianos, passa a conviver durante as madrugadas com figuras ilustres como Pablo Picasso, Ernest Hemingway, Salvador Dalí, Luis Buñuel, etc, etc… E ai do espectador que esperar explicações para estes encontros fantásticos: o personagem vive uma Cinderela à sua maneira e, como tal, não precisa tornar realisticamente verossímil seu conto-de-fadas.
É preciso que aquele que veja o filme leve certa bagagem cultural para conseguir entender algumas das muitas piadas intertextuais propostas ao longo do enredo. Entretanto, a vantagem de Allen é a de não aceitar o título de cult: ainda que necessitemos de certas informações para entendermos a narrativa, o diretor não espera um espectador ilustrado. Pelo contrário: o pseudoconhecimento é alvo de críticas durante todo o longa, o que faz que a vendedora de discos de vinil no mercado seja muito mais culta do que o professor que dá palestras na Sorbonne.
Trata-se, em suma, de um filme leve, porém que passa longe do banal. Uma divertida trama intertextual, que recupera ídolos do passado ao mesmo tempo em que mostra que a arte deve estar presente em todos os nossos dias. Inclusive em uma boa ida ao cinema.
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